Capitão Carla Borges integra time de pilotos que se revezam no comando do Airbus A-319
A
partir desta quinta-feira (22/12), a Capitão Aviadora da Força Aérea
Brasileira (FAB) Carla Borges escreve mais um capítulo em uma história
profissional marcada pelo pioneirismo. Integrante da primeira turma de
mulheres no curso de formação de oficiais aviadores da Academia da Força
Aérea (AFA) em 2003, a militar passa a ser a primeira mulher a comandar
a aeronave presidencial brasileira.
“É
uma nova etapa da minha vida. É muito orgulho para qualquer um poder
transportar o Presidente da República. É a maior autoridade do País”,
afirma a oficial sobre o novo passo da carreira. A militar tornou-se
operacional nesta aeronave após 150 horas de voo de treinamento e outras
60 horas em missões de simulador cumpridas nos últimos seis meses. “É
muito além do que eu imaginava. Estou orgulhosa de ter chegado aonde eu
cheguei. É uma conquista muito grande para mim”, complementa.
O
Airbus A-319 decolou da Base Aérea de Brasília às 16h com destino ao
aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Antes de embarcar, o presidente da
República, Michel Temer, declarou que "as mulheres das Forças Armadas
representam um papel extraordinário" e destacou a segurança no voo. "É
com muita satisfação que hoje vamos fazer este voo sob o comando da
Capitão Carla", afirmou Temer. "Espero que outras colegas possam pilotar
o avião presidencial", falou.
O
rosto da piloto Carla tornou-se conhecido ao estampar reportagens
apresentando o protagonismo das mulheres na FAB na área da aviação. Logo
após a especialização em Natal (RN), foi a primeira mulher a integrar o
Esquadrão Escorpião (1º/3º GAV), localizado em Boa Vista (RR), que
emprega o A-29 Super Tucano na defesa das fronteiras. O pioneirismo se
repetiu ao tornar-se, também, a primeira mulher a chegar à primeira
linha da aviação de caça. Em 2011 realizou o voo solo no A-1, avião de
caça usado em missões de ataque ao solo.
Em
pouco mais de dez anos de carreira, a militar acumulou mais de 1,5 mil
horas de voo no comando de nove modelos diferentes de aeronaves.
Diferente
do voo em uma aeronave de caça, quando decolava sozinha com o avião
armado para as missões de ataque e interceptação, por exemplo, a
comandante viaja agora com mais dois pilotos, dois mecânicos, um
especialista em comunicações e quatro comissários. Uma configuração
básica de tripulação prevista pelo Grupo de Transporte Especial (GTE).
Criado junto com o surgimento do então Ministério da Aeronáutica em
1941, ainda como uma seção de transporte especial no aeroporto
Santos-Dumont, no Rio de Janeiro, recebeu a denominação de GTE em 1956.
Com a transferência da capital federal para Brasília, a unidade também
migrou para o Centro-Oeste em 1960 para continuar a atender a
Presidência da República.
“A
diferença é muito grande. O tipo de voo é diferente. A aviação de caça
tem um voo com objetivos diferentes. Na aviação do transporte de
autoridades, preza-se mais pela tranquilidade do voo. É muito mais
cuidadoso para evitar qualquer tipo de distúrbio, turbulências, para
realmente dar conforto para a autoridade, que muitas vezes está
trabalhando a bordo”, explica a capitão.
O
A-319 presidencial, batizado de “Santos-Dumont”, em uso desde 2005 na
FAB tem uma configuração diferenciada que permite mais autonomia, mas é
semelhante ao A-319 utilizado na aviação comercial brasileira. “É uma
aeronave muito automatizada, então necessita de um estudo muito grande,
um preparo, de como funciona cada equipamento, como interage com os
demais”, explica a aviadora. Devido aos sistemas embarcados da aeronave,
uma das principais funções do piloto é gerenciar o voo.
Seleção - O
grupo de pilotos que integra o quadro de tripulantes dessa unidade da
FAB é seleto. Para ingressarem, os pilotos são submetidos a um conselho
operacional em que participam os chefes dos esquadrões (são três) e das
seções envolvidas. De acordo com o Comandante do GTE, Coronel Marcos
Aurelio Vilela Valença, para atuar nesta unidade o perfil do aviador
precisa atender a determinados requisitos. Além da competência
operacional, o comportamento é levado em consideração. "Buscamos pilotos
que tenham uma maturidade profissional", explica o coronel.
Normalmente, os aviadores aceitos estão no posto de capitão ou major.
Cada integrante pode permanecer por até sete anos neste quadro de
tripulantes.
Mulheres na FAB -
Em 1982, quando a FAB recebeu a primeira turma feminina, as mulheres
eram exceção. Passados 34 anos, a presença feminina é uma realidade em
praticamente todos os setores: das cabines de aeronaves de combate até o
comando de uma organização militar. De acordo com dados de dezembro
deste ano do Comando-Geral do Pessoal (COMGEP), hoje elas são um total
de 11 mil mulheres, o que representa 16% de todo o efetivo.
Em
relação a sua atividade-fim, as mulheres estão em todas as aviações
(caça, transporte, helicóptero, reconhecimento, busca e salvamento,
patrulha). Assim como a Capitão Carla, as primeiras aviadoras formadas
pela AFA em 2006 estão na primeira linha de suas aviações. Em outubro
deste ano, a Capitão Aviadora Joyce de Souza Conceição tornou-se a primeira piloto brasileira a pousar no continente antártico.
A Capitão Adriana Gonçalves, também piloto operacional da maior
aeronave em operação atualmente na FAB, o Boeing 767, já participou de
missões internacionais da FAB, como o transporte de tropas para o Haiti.
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