Corpos foram levados a quartel da PM; identificação começa na segunda.
Rebelião na Penitenciária de Alcaçuz durou cerca de 14h.
Polícia faz revista de presos (Foto: Adriano Abreu/Tribuna do Norte)
Vinte e seis presos morreram na rebelião da Penitenciária de Alcaçuz
que já é a mais violenta da história do Rio Grande do Norte. Quase todos
foram decapitados. O motim começou na tarde de sábado (14) e terminou
14h depois já na manhã deste domingo (15). Este já é o terceiro caso de
dezenas de mortes em penitenciárias no país em 2017 - no começo de
janeiro ocorreram os massacres no Amazonas e Roraima.
Mais cedo, havia sido divulgado que 27 presos morreram, mas, segundo o
governo do estado, um deles foi computado duas vezes por que alguns
corpos foram esquartejados e dois foram carbonizados.
O secretário de Segurança Pública, Caio Bezerra, disse, em coletiva na
noite de domingo, que haverá reforço nas guaritas e nos arredores do
presídio durante a noite para evitar fugas, e que na segunda-feira será
realizada uma nova revista na unidade para buscar armas brancas ou de
fogo. Neste domingo foram encontradas armas de fogo artesanais, segundo
ele.
O secretário de Justiça, Wallber Virgolino, disse que os líderes
identificados estão isolados dentro da unidade prisional e que ele
espera que na segunda seja feita a transferência de presos para outras
unidades no próprio estado. O objetivo é separar duas facções: Sindicato
do Crime e PCC. Ele classificou o local como "cenário de barbárie".
Ele respondeu ainda sobre boatos de que haveria mais corpos em fossas
do presídio, e disse que na segunda-feira haverá uma nova busca.
Virgolino afirmou não descartar a possibilidade, mas disse que não
acredita que ela se confirme.
O secretário de Segurança Pública, Caio Bezerra, fala durante coletiva de imprensa sobre a rebeilão (Foto: G1/Fernanda Zauli)
Os corpos foram levados para o Instituto de Técnico-Científico de
Polícia (Itep) para que seja feita a identificação, mas, por questões de
segurança, seguiram de lá até o quartel da PM. Um caminhão frigorífico
foi alugado para armazenar os corpos enquanto não acontece a liberação
para os sepultamentos. Além disso, legistas do Ceará e da Paraíba foram
deslocados para ajudar no trabalho de identificação. Alguns presos, além
de decapitados, também foram esquartejados.
A identificação dos corpos deve acontecer a partir da manhã de segunda-feira. Nenhum dos mortos foi identificado por enquanto.
Corpos foram levados para o Instituto de Técnico-Científico de Polícia (Itep) (Foto: Emmily Virgílio/Inter TV)
Nove presos que estavam com ferimentos graves foram transferidos para o
Pronto-socorro Clóvis Sarinho, em Natal. De acordo com a direção do
hospital, nenhum deles corre risco de morte, mas não há previsão de
alta.
Em entrevista coletiva realizada na manhã deste domingo, o Governo do Estado informou que identificou pelo menos seis líderes da rebelião.
De acordo com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc), o governo
vai pedir a transferências dos líderes para presídios federais. Outros
detentos podem ser transferidos ainda neste domingo para outras unidades
prisionais do estado.
O titular da Sejuc, Wallber Virgolino, confirmou que os presos do
pavilhão 5 invadiram o pavilhão 4. Segundo ele, um trabalho de contenção
realizado por agentes penitenciários com o uso de bombas de efeito
moral evitou a entrada dos rebelados no pavilhão 1. "Em termos de número
de mortes essa é a maior rebelião da história do Rio Grande do Norte",
disse.
Ainda de acordo com o secretário, a rebelião no Rio Grande do Norte não
tem relação confirmada com os motins no Amazonas e em Roraima. "Não há
confirmação de relação, mas com certeza as rebeliões naqueles presídios
incentivaram o que aconteceu aqui", disse Virgolino.
Três equipes de delegados da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa
(DHPP) e 15 homens estão responsáveis pela perícia dos locais de crime.
A Penitenciária de Alcaçuz, segundo o governo, ficou parcialmente
destruída e não há previsão para reconstrução. Ainda na tarde de sábado,
um detento fugiu da penitenciária, mas foi recapturado em seguida
Sobre a rebelião
A rebelião começou com uma briga entre presos dos pavilhões 4 e 5 por
volta das 17h de sábado (14). De acordo com a presidente do Sindicato
dos Agentes Penitenciários, Vilma Batista, homens em um carro se
aproximaram do presídio antes da rebelião e jogaram armas por sobre o
muro.
Segundo o governo, a briga estava restrita aos dois pavilhões. O
pavilhão 5 é o presídio Rogério Coutinho Madruga, que fica anexo a
Alcaçuz. Há separação entre presos de facções criminosas entre os dois
presídios.
De acordo com a Sejuc, os próprios presos desligaram a energia do local
e, com isso, os bloqueadores de celulares da unidade prisional deixaram
de funcionar. Durante a madrugada foram ouvidos tiros dentro da unidade
prisional e muita fumaça era vista no local.
Na manhã deste domingo, policiais militares entraram na unidade
prisional com veículo blindado, vans e carros para tentar acabar com
rebelião. A rebelião foi controlada por volta das 7h20 com a entrada do
Bope e do Choque, além do Grupo de Operações Especiais formado por
agentes penitenciários.
Alcaçuz fica em Nísia Floresta, cidade da Grande Natal,
e é o maior presídio do estado. A penitenciária possui capacidade para
620 detentos, mas abriga cerca de 1.150 presos, segundo a Sejuc, órgão
responsável pelo sistema prisional do RN.
Rebeliões e fugas
A última rebelião em Alcaçuz foi registrada em novembro de 2015.
Houve quebra-quebra após a descoberta de um túnel escavado a partir do
pavilhão 2. “Assim que acabou a visita social, por volta das 15h, os
presos se amotinaram”, disse o secretário de Justiça da época, Cristiano
Feitosa.
Mais de 100 presos conseguiram escapar do presídio no ano passado,
em 14 fugas. A maioria deixou o presídio por meio de túneis escavados a
partir dos pavilhões ou por buracos abertos no pé do muro, sempre sob
uma guarita desativada ou sem vigilância.
Força Nacional
Na segunda-feira (9), o Ministério da Justiça prorrogou por mais 60
dias a presença da Força Nacional de Segurança no Rio Grande do Norte.
Os policiais enviados pelo governo federal estão atuando no
patrulhamento das ruas e podem atuar na segurança do perímetro externo
das unidades prisionais localizadas na Grande Natal.
A Força Nacional chegou ao estado em março de 2015, durante a série de motins no sistema prisional do estado, e o prazo de apoio poderá ser novamente prorrogado, caso haja necessidade.
Calamidade pública
O sistema penitenciário potiguar entrou em calamidade pública no mesmo mês, em março de 2015.
Na ocasião, foram gastos mais de R$ 7 milhões para recuperar 14
presídios depredados durante motins, mas as melhorias foram novamente
destruídas. Atualmente, em várias unidades as celas não possuem grades e
os presos circulam livremente dentro dos pavilhões.
Segundo a Secretaria de Justiça e da Cidadania (Sejuc), órgão responsável pelo sistema prisional do estado, o Rio Grande do Norte
possui 33 unidades prisionais, que oferecem 3,5 mil vagas, mas a
população carcerária é de 8 mil presos - ou seja, o déficit é de 4,5 mil
vagas.
Acre e AmazonasNa quinta-feira (12), presos apontados pelos setores de inteligência do Acre e do Amazonas como líderes de facções criminosas chegaram à penitenciária federal de Mossoró, na região oeste do Rio Grande do Norte. Ao todo, foram 19 detentos que foram trazidos em uma operação especial para o presídio potiguar - 14 do Acre e 5 do Amazonas.
Fonte: G1 RN
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