04/02/2017 10h09
Rio de Janeiro
Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
No Dia Mundial do Câncer, lembrado neste sábado (4), entidades médicas alertam para ampliação de campanhas para o diagnóstico precoce da doença e que a população não negligencie os sintomas.
O câncer é
a segunda causa de morte no mundo. Estimativa do Instituto Nacional do
Câncer (Inca) aponta a ocorrência de cerca de 600 mil casos novos de
câncer no Brasil em 2016-2017, dos quais cerca de 180 mil serão de pele
não melanoma. Os cânceres de próstata (61 mil) em homens e mama (58 mil)
em mulheres também serão os mais frequentes.
Às vésperas
de completar 35 anos e após duas gestações, Cristiane Souza da Silva
Félix viu interrompido o desejo de uma cirurgia para redução de abdômen
ao descobrir um câncer de mama.
A descoberta foi apontada
em exames de rotina, entre os quais uma mamografia. O câncer foi
descoberto precocemente e pôde tratá-lo a tempo.
Prudência
“Se
minha médica não fosse alguém prudente, porque é muito importante isso.
Muitas vezes, o médico insiste nesse exame [mamografia] só aos 40 anos e
ela fez de forma prudente, recomendando primeiro exames de saúde para
depois pensar em cirurgia”, contou Cristiane, que passou pelos processos
de quimio e radioterapia.
Sete anos depois, Cristiane está fazendo exames de dois em dois meses, e tomando medicação até completar dez anos de operação.
Cristiane
não fez a abdominoplastia, mas criou a Associação Mulheres Vitoriosas,
que presta assistência a mulheres mastectomizadas (que tiraram a mama),
no município de Campos dos Goytacazes, norte fluminense. “Das 500
mulheres a que eu presto assistência hoje, 75% têm menos de 40 anos e o
número de pacientes mastectomizadas tem sido muito grande abaixo dos 40
anos”.
A engenheira de segurança Jocilene Braga de Aguiar também
destaca a importância da detecção precoce para eliminar um tumor na
mama. Ela está com 39 anos e, portanto, fora da faixa etária em que é
recomendável o início da realização de exames de mamografia. Mesmo
assim, a médica pediu uma mamografia, cujo resultado, divulgado em
novembro, confirmou a alteração na mama. “Foi Deus”, disse Jocilene à
Agência Brasil, referindo-se ao diagnóstico precoce. Ela está em fase
pré-operatória para extrair o câncer. A cirurgia está marcada para o
próximo dia 14.
O oncologista Ronaldo Corrêa, editor científico
da Revista Brasileira de Cancerologia do Inca, destaca que as campanhas
devem abordar todos os tipos da doença e não apenas os mais comuns, como
os de próstata e mama. “Acho que é muito pouco em comparação a outros
países, em especial os desenvolvidos”, disse.
Para Ronaldo
Corrêa, a linguagem das campanhas também deve levar em conta a
diversidade do país e “falar a língua” dos moradores de cada região. “A
linguagem tem que ser diferente nesses diferentes contextos, até pelas
características e os hábitos da população de cada região. Fica difícil
fazer uma campanha nacional”. Em países pequenos, segundo ele, é mais
fácil ter um discurso uniforme para a população entender.
Saiba Mais
O
presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Gustavo
Fernandes, alerta que vários sintomas que podem indicar a presença de
um tumor não são observados pelo paciente, que acaba demorando a
procurar um serviço médico. Por exemplo, dores persistentes após uma ou
duas semanas, tosse e rouquidão ininterruptas, perda de peso acentuada e
sangue nas fezes.
“São dois atrasos: um atraso na procura [do paciente por um médico] e um atraso na obtenção daquilo que se procura”, disse.
Cigarro
Já
o presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), Robson
Moura, o cigarro é o principal fator de risco para o câncer. “É,
individualmente, o principal agente causador de morte no mundo, tanto
das doenças cardiovasculares, como está associado ao câncer de pulmão,
de laringe, boca, esôfago, estômago. Também os alimentos constituem um
fator de risco. “Carnes vermelhas estão muito associadas ao risco de
câncer de intestino”. Já carnes salgadas ou defumadas e os embutidos têm
substâncias que aumentam o risco de câncer de estômago.
Segundo o
presidente da SBC, apenas 15% dos cânceres têm um fator genético
significativo, como o câncer de mama. Moura destacou também que alguns
tipos de câncer, como o ósseo, são mais comuns em adolescentes do que em
pessoas idosas por estar relacionado ao processo de crescimento. "Não
impede que um adulto possa ter câncer ósseo”, disse.
De acordo
com Moura, mulheres na menopausa têm um risco maior de câncer de mama,
que tende a diminuir a partir dos 70. Já o câncer de estômago tem
incidência maior acima dos 50 anos. Moura lembrou que também as crianças
têm cânceres, em geral hematológicos, como leucemia.
Campanhas
No
próximo dia 10, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, lançará no Inca a
campanha deste ano, que tem como tema o combate ao câncer
infantojuvenil. Será divulgado estudo que, pela primeira vez, trará
dados sobre a incidência do câncer e principais tumores na faixa etária
de 5 anos a 19 anos. O ministro irá inaugurar ainda a ala de pediatria
oncológica do Inca.
A campanha mundial da União Internacional
para o Controle do Câncer (UICC) foca, no triênio 2016/2018, na temática
Eu Posso Nós Podemos, englobando ações individuais e coletivas para
diminuir o risco de ter câncer. Entre as ações individuais, cita uma
alimentação saudável, não fumar, não consumir álcool em excesso, ter uma
atividade física regular. As estratégias coletivas vão desde a promoção
de hábitos saudáveis no ambiente de trabalho, como subir escadas para
diminuir o peso e evitar o consumo de cigarro, até cobrar das
instituições públicas melhores serviços de saúde, melhor acesso ao
diagnóstico e tratamento do câncer, entre outras. “A ciência já tem
conhecimento suficiente para dizer que se eu não fumar, não consumir
álcool em excesso e manter um peso ideal, praticamente reduzo em quase
50% a chance de ter um câncer”, disse Ronaldo Corrêa.
Envelhecimento
Ronaldo
Corrêa estimou que nos próximos 20 ou 30 anos o número de casos aumente
por causa do envelhecimento, que é um dos principais fatores de risco
para câncer. “Quanto mais velha a população, maior a probabilidade de
aquela população ter câncer”.
Nos países desenvolvidos, a
população já envelheceu há 30 ou 40 anos, por isso a incidência de novos
casos de câncer tende a ficar estável ou diminuir.
No Brasil,
além de a população jovem estar envelhecendo e ter se tornado
prioritariamente urbana, nos últimos 20 anos, está sujeita a fatores de
risco, como poluição, sedentarismo, excesso de peso, alimentos fast food.
Corrêa,
no entanto, diz que as taxas de mortalidade precisam diminuir,
relacionadas à melhoria dos sistemas de saúde e comprometimento da
sociedade. “Quanto mais uma sociedade avança em questões que não são
somente o setor saúde, mas no emprego, Previdência Social, educação,
transporte, habitação, meio ambiente, o setor saúde avança alinhado com
esses avanços da sociedade e a resposta na redução da mortalidade é
muito maior”.
Ele lembra que o Brasil já teve conquistas nessa
área. Na década de 1950, por exemplo, a sobrevida média dos indivíduos
com câncer atingia 30%, 40%. Hoje em dia, supera 80%.
Edição: Carolina Pimentel
Fonte: Agência Brasil
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