02/05/2017
Rio de Janeiro
Paulo Virgilio - Repórter da Agência Brasil
Morreu hoje (2) no Rio de Janeiro, aos 84 anos, o escritor,
professor e ex-ministro da Educação Eduardo Portella, ocupante da
Cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Portella teve uma
parada cardíaca no Hospital Samaritano, em Botafogo, zona sul do Rio,
onde havia sido internado no domingo (30).
O corpo será velado a
partir das 19h no Salão dos Poetas Românticos, no Petit Trianon, sede da
ABL, no centro do Rio. Amanhã (3), às 10h30, será celebrada missa de
corpo presente e, em seguida, o corpo será levado para o mausoléu da
Academia, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
Biografia
Baiano
de Salvador, nascido em 8 de outubro de 1932, Eduardo Mattos Portella
fez os estudos secundários no Recife, cidade onde se formou em direito
pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1955. Ainda na capital
pernambucana, começou a exercer a crítica literária, em colaborações
para a imprensa local.
Ao longo da década de 1950, estudou
filologia, crítica literária e literatura em instituições de Madri, Roma
e Paris e publicou na Espanha seu primeiro livro, Aspectos de la poesía brasileña contemporánea.
Começou a exercer o magistério na capital espanhola, na Faculdade de
Letras da Universidade Central de Madri. De volta ao Brasil, foi
professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Pernambuco, e
mais tarde, já na capital fluminense, da Faculdade de Letras da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na qual conquistou todas
as titulações até se tornar professor emérito.
Funcionário do
Ministério da Educação e Cultura desde 1956, Eduardo Portella foi
nomeado titular da pasta em 1979, no início do governo de João
Figueiredo, o último presidente do regime militar. Permaneceu pouco mais
de um ano à frente do ministério, do qual foi demitido por ter apoiado a
greve dos professores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Na
ocasião, ficou famoso pela frase “Não sou ministro. Estou ministro”,
com a qual quis demonstrar a consciência da transitoriedade da sua
passagem pelo ministério do governo militar. Recebeu o apoio de
intelectuais que faziam oposição ao regime, como o escritor Alceu de
Amoroso Lima.
Na segunda metade da década de 1980, foi secretário
estadual de Cultura no Rio de Janeiro e em 1988 foi nomeado
diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (Unesco), com sede em Paris. Ocupou por cinco anos consecutivos
o cargo e desde 1998 coordenava o Comité Chemins de la Pensée
d'Aujord'hui, da entidade.
Imortal
Eduardo
Portella ingressou na Academia Brasileira de Letras em 1981, sucedendo o
escritor Otávio de Faria como ocupante da Cadeira 27, que teve como
fundador Joaquim Nabuco. O presidente da ABL, Domício Proença Filho,
decretou luto oficial de três dias na instituição e afirmou que, “com a
ausência de Eduardo Portella, perde o Brasil um excepcional pensador da
cultura, um professor e crítico de alta presença e porte, e a Casa de
Machado de Assis, um acadêmico de forte liderança e marcada atuação”.
A
escritora Nélida Piñon, secretária-geral da ABL, destacou que Portella
“era um grande mestre do pensamento brasileiro, que soube, com rara
perspicácia, interpretar o fenômeno literário”. Autor de mais de 20
obras de crítica literária e ensaios, Eduardo Portella fundou e dirigiu a
editora Tempo Brasileiro, responsável pela introdução no Brasil de
autores como os filósofos alemães Martin Heidegger e Jurgen Habermas,
entre outros pensadores.
O escritor deixou a viúva Célia Portella e uma filha, Mariana.
Edição: Luana Lourenço
Fonte: Agência Brasil
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