Hipismo: faltas e desqualificação complicam equipe brasileira de saltos na final
Reuters/Tony Gentile/Direitos Reservados
As
chances de o Brasil voltar a conquistar uma medalha na final dos saltos
– prova em que o país tem mais tradição no hipismo, com um bronze em
Atlanta 1996 e Sidney 2000 – diminuíram bastante antes mesmo que os
conjuntos entrassem na pista no hoje (17). O cavaleiro Stephan Barcha
foi enquadrado na “regra do sangue”, que prevê a desqualificação do
atleta que causar ferimentos, de forma intencional ou não, em seu
cavalo.
“O Stephan usou a espora durante a prova e pegou na
barriga do cavalo [Landpeter do Feroleto], fazendo um corte mínimo. Mas
a comissão técnica entende que qualquer coisa nessa região elimina o
conjunto. Não foi nada contra o cavalo, mas em algum momento da prova em
que o Stephan precisou de um pouco mais de força, ele usou a espora e
acabou ocasionando o ferimento”, explicou o veterinário da Confederação
Brasileira de Hipismo, Rogério Saito, em entrevista ao site oficial da entidade.
Apesar
de ter chegado para a segunda e última rodada zerado em faltas e
liderando a competição ao lado dos Estados Unidos, da Holanda e da
Alemanha, os cavaleiros brasileiros sabiam que precisariam de
apresentações perfeitas para entrar na briga pelas primeiras posições,
já que não poderiam fazer descarte do pior resultado. Com Eduardo
Menezes, Álvaro de Miranda, o Doda, e Pedro Veniss, o Brasil terminou na
quinta colocação, com 13 pontos perdidos - cada um derrubou um
obstáculo e sofreu uma falta, e Veniss também foi penalizado por ter
excedido o tempo de 82 segundos para concluir o percurso.
“A gente
teve essa infelicidade de entrar hoje só com três conjuntos, que é uma
coisa que complica muito. Um exemplo disso é ver outras equipes, como a
Holanda, por exemplo, que é uma equipe muito forte, entrando só com
três”, aponta Doda. Tanto a Holanda quanto os Estados Unidos entraram
com um conjunto a menos devido a problemas físicos dos animais – e,
mesmo assim, os norte-americanos perderam apenas cinco pontos e ficaram
com a prata.
Integrante das duas equipes brasileiras que chegaram à
medalha, Doda entende que, com um quarto conjunto, o Brasil teria
condições de brigar com Alemanha e Canadá - que terminaram empatadas com
13 pontos perdidos - pelo bronze. “A gente teria uma chance a mais.
Entramos sabendo que tudo o que a gente fizesse seria somado sem
descarte. Nessa mesma situação em que ficamos, um de nós não poderia ter
falhado. Mas se o Stephan tivesse entrado e zerado, a gente saltaria o
desempate”.
“No
hipismo, não temos direito ao erro. Não é igual ao tênis ou futebol,
que quando você está jogando um pouco mal, ainda consegue dar uma
acordada no time e reverter. Temos apenas 80 segundos. Se você piscar o
olho, tem uma falta”, completa Doda. “É uma desvantagem. Mas tínhamos
consciência de que não poderíamos cometer erro nenhum, até porque as
outras equipes tinham a chance de se recuperar”, lamenta Pedro Veniss, o
segundo brasileiro a passar pela pista, considerada mais alta e mais
técnica para a rodada final.
Alfinetada
Chamado
para ser reserva da equipe de saltos, Rodrigo Pessoa trocou a sela
pelas tribunas de imprensa do Estádio Olímpico de Hipismo. Com seis
participações em Jogos Olímpicos, Pessoa entrou em rota de colisão com a
comissão técnica liderada pelo norte-americano George Morris por não
figurar entre os titulares – as más condições de sua égua seriam a
justificativa para a decisão – e recusou a convocação. O medalhista de
ouro em Atenas 2004 e tricampeão mundial comentou a prova para uma
emissora francesa, e posicionou-se sobre a punição sofrida pela equipe
brasileira.
“Pode acontecer com qualquer um. Não é de propósito. É
um acidente que acontece no fogo da ação. Desde que a regra começou a
valer, houve várias desclassificações. A regra é clara e está sendo
aplicada. Ter mais ou menos experiência não muda muita coisa. Mas tudo
que eu posso falar é que comigo isso não teria acontecido, porque eu
monto a minha égua sem espora”, ironizou.
Para o presidente da
Confederação Brasileira de Hipismo (CBH), Luiz Roberto Giugni, a “regra
do sangue” precisa ser rediscutida. “Temos que debater se a regra é
justa ou muito rígida. A gente tem que separar o joio do trigo. Não
vimos, em nenhum momento, algum requinte de crueldade no nosso
cavaleiro, mas a regra é clara em relação a isso [presença de sangue no
animal]. Se existir, está fora. E a gente tem que jogar de acordo com as
regras, mas elas não são feitas para que a gente morra com elas”.
A
CBH ainda ingressou com um protesto para que a decisão fosse
reconsiderada, mas o próprio Giugni admite que foi uma medida
protocolar. “A gente entrou com o recurso porque é nosso dever de ofício
tentar reverter e espernear para tentar alguma coisa. Mas de fato, eu
não acreditava em momento nenhum que poderia ser revertido e comuniquei a
todos que aceitávamos a decisão. Temos que aprender algo em relação a
isso e tomar alguns cuidados”.
A “regra do sangue” passou a
vigorar em 2012, após ser aprovada pela assembleia geral da Federação
Equestre Internacional (FEI). Ela prevê que, se for constatado sangue
fresco em qualquer parte do corpo do animal, o cavaleiro é
automaticamente eliminado do campeonato – inclusive os de alto nível,
como os Jogos Olímpicos e os Jogos Mundiais Equestres.
A primeira
proposta para a regra, feita um ano antes, admitia exceções para
competições desse porte. Ou seja, os cavalos feridos por esporas ou
chicotes poderiam ser liberados para as provas desde que o sangramento
tivesse sido estancado, e o machucado fosse considerado pequeno. A
brecha gerou controvérsias e acabou sendo desconsiderada na redação
final da norma.
Edição: Gustavo Gomes
Fonte: Agência Brasil
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