08/02/2017 12h42
Rio de Janeiro
Nielmar de Oliveira - Repórter da Agência Brasil
A
inflação oficial do país fechou janeiro de 2017 com a menor alta para
os meses de janeiro de toda a série histórica iniciada em 1979 – ou
seja, em quase quatro décadas.
A constatação é do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou hoje (8), no
Rio de Janeiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA):
0,38%.
No entanto, em janeiro deste ano a taxa subiu 0,8 ponto
percentual em relação a dezembro de 2016, ao passar de 0,3% para 0,38%.
É, porém, 0,89 ponto percentual inferior ao apurado em janeiro do ano
passado: 1,27%.
Com o resultado de janeiro deste ano, a inflação
acumulada pelo IPCA nos últimos 12 meses é de 5,35%, ficando 0,94 ponto
percentual abaixo dos 6,29% apurados nos 12 meses encerrados em dezembro
de 2016.
Os dados do IBGE indicam, ainda, que a alta de janeiro
deste ano foi puxada pelas tarifas de ônibus, que, pressionadas pela
alta dos combustíveis (1,28%), subiram 2,84%, liderando o ranking dos
principais impactos individuais, com 0,07 ponto percentual para a taxa
global do mês. Item importante nas despesas do consumidor, os ônibus
urbanos têm expressiva participação de 2,61% na formação do IPCA.
Com
a alta das tarifas dos coletivos, o grupo transportes apresentou a mais
elevada variação na composição de grupo (0,14%). Segundo o IBGE, a alta
de 1,28% dos combustíveis teve forte influência na elevação dos preços
do litro do etanol que subiu 3,1% - pressionando o grupo - enquanto o
litro da gasolina aumentou 0,84%.
Mesmo assim, o grupo
Transportes - apesar da variação mais elevada - apresentou forte
desaceleração na taxa de crescimento de preços de dezembro para janeiro,
ao passar de 1,11% para 0,77%. Isto se deve, principalmente, às
passagens aéreas, que foram de 26,29% em dezembro para uma deflação
(inflação negativa) de 7,36% em janeiro.
Alimentação e bebidas têm forte aceleração
Os
grupos Alimentação e Bebidas e Habitação também acusaram forte
aceleração entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017 e contribuíram para
que o IPCA fosse de 0,3% para 0,38% de um mês para o outro. No caso de
Alimentação e Bebidas, a taxa passou de 0,08% para 0,35%, e o de
Habitação saiu de uma deflação de 0,59% para uma inflação de 0,17%.
No
grupo Habitação, a queda nas contas de energia elétrica foi menos
intensa. Em dezembro, as contas ficaram 3,7% mais baratas, o principal
impacto para baixo. Isto devido ao fim da cobrança do adicional de R$
1,50 da bandeira amarela. Já em janeiro, a queda foi de 0,6% e se deve à
redução do Programa de Integração Social/Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) na maioria das regiões
analisadas.
A pesquisa do IBGE indica que apenas os grupos
Artigos de Residência, com deflação de 0,1%, e de vestuário (-0,36%)
apresentaram quedas de preços entre dezembro e janeiro.
Os números por regiões
Entre
as 13 regiões pesquisadas pelo IBGE, sete apresentaram taxas acima da
média nacional do IPCA de 0,38% verificada em janeiro.
O
principal destaque foi Brasília, cujo índice caiu de 1,2% para 0,72%, de
dezembro para janeiro, mas foi a mais alta taxa do país, com um
resultado que chegou a ser 0,34 ponto percentual superior à média do
IPCA do mês. Em seguida, aparecem Vitória, com IPCA de 0,69%, e Salvador
(0,67%). No Rio de Janeiro, a taxa variou 0,4%.
Entre as seis
regiões que fecharam com taxas menores do que a média nacional, o
destaque principal ficou com a região metropolitana de Porto Alegre, a
menor do país: 0,18%. Em São Paulo, a taxa variou 0,23%.
O IPCA é
a inflação oficial do país e serve de parâmetro para o plano de metas
do governo federal, cujas bandas fixadas pelo Banco Central variam entre
3,5 e 6,5%. Calculado pelo IBGE desde 1980, o índice abrange famílias
com rendimento de 1 a 40 salários mínimos e envolve dez regiões
metropolitanas do país, além de Goiânia, Campo Grande e de Brasília.
Inflação em baixa
Na
avaliação da coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes
dos Santos, o recuo da demanda em razão das altas taxas de desemprego e
da dificuldade de crédito é fundamental para que as taxas de inflação se
mantenham em níveis relativamente baixos, se comparados ao ano de 2015.
Para
ela, a conjuntura não mudou e o perfil do comportamento dos preços
neste início de ano se manteve semelhante aos de 2016, em particular, a
partir da segunda metade do ano.
“O perfil dos últimos meses do
ano passado e deste início do ano, com desemprego em alta, dificuldade
de crédito e elevadas taxas de juros, tem feito os preços recuarem e, em
alguns casos, levando até mesmo à redução da margem de lucro em razão
do comportamento do dólar”, disse.
Para Eulina, “o recuo da
demanda tem sido fundamental para que a gente esteja tendo hoje taxas de
inflação bem mais baixas do que há alguns anos. A conjuntura não mudou:
há um esboço de recuperação em alguns setores da indústria, mas não há
resposta em termos de venda e o contexto ainda é de pouca grana”,
afirmou.
A coordenadora entende que os perfis dos dois índices
(dezembro e janeiro) são mais ou menos parecidos, com os preços sendo
influenciados pela demanda.
Quanto ao resultado de alta de
janeiro (0,38% contra 0,3% de dezembro do ano passado) ele foi
influenciado pela diferença exercida pela pressão das passagens dos
ônibus urbanos, uma vez que os transportes são responsáveis por uma
parcela significativa das despesas das famílias e janeiro concentra
reajustes em algumas regiões do país. Soma-se a isso os alimentos, cujos
preços pesam mais e têm maior impacto nas despesas das famílias - e
alguns itens aumentaram bastante, argumenta.
A técnica do IBGE
avalia que, em fevereiro, o IPCA ainda sofrerá o impacto pontual dos
reajustes das mensalidades escolares “que também pesam muito e causam
impacto no orçamento das famílias. Haverá ainda resquícios dos reajustes
das tarifas de ônibus que ainda vão aparecer em menor escala no índice
do próximo mês”, finaliza.
Edição: Kleber Sampaio
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