São Paulo
Daniel Mello – Repórter da Agência Brasil
Com
13 medalhas paraolímpicas em quatro mundiais, o nadador Clodoaldo Silva
está disposto a quase tudo para trazer mais algumas nas três provas que
disputará nos jogos da Rio 2016. “Meu lema é: se eu não ganhar medalha,
eu compro. Mas eu trago”, brinca o campeão com o bom humor costumeiro.
A
essa característica atribui grande parte das vitórias, dentro e fora da
piscina: “Eu sou uma pessoa com deficiência. Uma pessoa que poderia ter
todas as justificativas para ser um cara dependente, um coitadinho,
vítima da vida. Mas eu, com todas essas dificuldades, consegui através
da minha alegria, do bom-humor, sempre pensando positivamente, consegui
as minhas conquistas dentro e fora da água”, diz com orgulho sobre sua
trajetória.
Além das conquistas olímpicas – seis ouros, cinco
pratas e dois bronzes –, o campeão ostenta uma medalha de ouro e três
medalhas de prata dos Jogos Parapan-americanos de Toronto 2015 e dois
ouros e quatro pratas dos Jogos Parapan-americanos de Guadalajara 2011.
No
entanto, a carreira como esportista – que começou em 1996 como
tratamento para as sequelas de uma paralisia cerebral causada pela falta
de oxigenação durante o parto – pode estar perto do fim. “Quero
participar dessa minha quinta paraolimpíada, tirar umas férias e pensar
no que eu faço”, diz sobre o tempo livre que pretende aproveitar ao lado
da filha, Anita, de quatro anos.
Aposentadoria
Para
Clodoaldo, deixar o esporte seria uma oportunidade de se dedicar com
mais afinco a outras atividades que já desenvolve. “Eu realizo palestras
motivacionais por todo o Brasil. Participo de vários projetos sociais e
tenho vários convites da muitas empresas para começar projetos legais
fora da piscina, incentivando o esporte paraolímpíco”, conta o atleta,
que completou 37 anos em fevereiro.
Por outro, Clodoaldo conta
que tem recebido muitos apelos para adiar a possível aposentadoria.
"Venho recebendo várias mensagens para ficar até Tóquio, 2020”, conta
ele ao emendar com outro comentário bem humorado: “Venho recebendo até
ameaças de morte da delegação brasileira para não aposentar".
O
nadador diz ainda que se sente disposto para competir em nível de
igualdade com atletas mais jovens. “Eu ainda sou competitivo. Eu treino
muito bem com os atletas novinhos e não fico para trás”, garante.
Independentemente
do futuro, Clodoaldo dará o máximo de si nas próximas competições,
apesar de não antecipar resultados. “Nunca fui de prometer medalhas.
Principalmente nesse momento, eu não vou prometer nada porque não sou
político. O que eu posso prometer é muita dedicação e determinação. O
que tiver que fazer para conseguir um bom resultado, tanto individual
quanto coletivo, o Clodoaldo Silva vai fazer”.
“Estrangeiros vão tremer”
Para
isso, ele espera contar ainda com o apoio do público. “Não tenho dúvida
nenhuma de que a torcida brasileira vai nos abraçar. Vai vibrar, se
emocionar. Vai chorar, junto com a gente. Porque no Parapan-americano
também teve todo esse empenho com a gente”, relembra sobre o que
acredita que será uma vantagem sobre os adversários. “Com certeza os
estrangeiros vão tremer e os brasileiros vão se sentir acolhidos para
fazer o seu melhor”.
Mesmo focado na vitória, Clodoaldo destaca
que seu grande objetivo é fazer diferença também fora do esporte. “A
minha grande missão não é só conquistar medalhas e estar no lugar mais
alto do pódium, mas sim poder estar dando exemplo para a sociedade com e
sem deficiência”, ressalta ao lembrar como o esporte paralímpico ajudou
a trazer visibilidade para aqueles com necessidades especiais.
“Eu
comecei em uma época em que o Brasil não conhecia esporte paralímpico e
não tinha respeito nenhum pela pessoa com deficiência”, conta sobre a
sua percepção na década de 1990. “O Brasil começou a ganhar títulos e o
Clodoaldo também. Eu me tornei um grande ícone, um grande referencial
para o esporte paraolímpico. Com isso surgiram grandes atletas de várias
modalidades”, diz, sem falsa modéstia, sobre o papel que ocupa no
imaginário nacional, 37 anos após um nascimento repleto de dificuldades
em Natal, no Rio Grande do Norte.
Edição: Denise Griesinger
Fonte: Agência Brasil
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