10/12/2016
Coari (AM)
Nielmar de Oliveira - Enviado especial*
Já se passaram 30 anos desde que o petróleo jorrou pela primeira
vez do poço pioneiro Rio Urucu número 1 (RUC-1), que deu origem à
Província Petrolífera de Urucu, no Amazonas, maior reserva provada
terrestre de óleo equivalente (petróleo e gás natural) do país.
Descoberta
em 1986 no coração da Amazônia, em Coari, a cerca de 650 quilômetros de
Manaus, Urucu chama a atenção pelo desafio de produzir petróleo com
respeito ao meio ambiente e redução dos impactos da atividade sobre a
região.
O óleo de Urucu, um dos mais leves produzidos no país
(quanto mais leve, melhor a qualidade), facilita o seu processamento nas
refinarias e permite o aproveitamento na produção de gasolina, nafta
petroquímica, óleo diesel e Gás Liquefeito de Petróleo (GLP).
Em
outubro deste ano, o complexo registrou a produção de 35.387 barris de
petróleo por dia e 13,9 milhões de metros cúbicos de gás natural, além
de 1,2 tonelada de GLP, o equivalente a 112 mil botijões de gás de
cozinha.
Se comparada aos 100 mil barris/dia de uma única unidade
do pré-sal, a produção de Urucu é pequena, mas fundamental para o
abastecimento da Região Norte e parte do Nordeste, além de ter papel
importante na atividade econômica do Amazonas, com participação de cerca
de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado.
A chegada à Amazônia nos anos 1980
O
engenheiro de produção Ivaldo Santos da Silva, 34 anos de Petrobras, 30
dos quais dedicados à Urucu, lembra das dificuldades de instalação do
complexo em meio à mata fechada, numa obra grandiosa. “Isto aqui era
mata cerrada e lamaçal. Não era incomum encontrarmos onças, cobras e
todo tipo de animal. Era aventura pura, estilo Indiana Jones mesmo. Todo
transporte de material e de pessoas era feito pelo Rio Urucu. Os
equipamentos, máquinas, tratores e sondas eram desmontadas e carregados
pelo meio da mata fechada e enlameada nas costas mesmo. Desmontava-se
tudo, colocava-se tábuas para reduzir os atoleiros e, em meio as
clareiras que eram abertas, se montava tudo de novo”, conta, emocionado.
O
gerente da Província de Urucu, João Roberto Rodrigues, há 29 anos no
projeto, recorda outro desafio da criação da base de exploração na
Amazônia: a concorrência com a Bacia de Santos, que era prioridade da
Petrobras na época por causa dos 100% de chances de acerto na perfuração
dos poços e do retorno rápido e garantido do investimento, ao contrário
de Urucu, onde a exploração ainda era incerta. Foi necessário que o
geólogo responsável pelo projeto amazônico fosse à sede da estatal, no
Rio de Janeiro, para convencer a diretoria a manter as tentativas.
“E
a descoberta de Urucu significou que ele estava certo e selou o destino
da atividade da empresa na região. Era a última bala, a última chance e
ele provou que estava certo com a descoberta de do poço pioneiro RUC-1.
E aí houve a decisão pelos investimentos na região, o retorno do
pessoal que já havia deixado o local, além do deslocamento de mais
funcionários para a região”, relembra Rodrigues.
Se em 1986
apenas 62 pessoas presenciaram o momento em que o petróleo jorrou pela
primeira vez na Amazônia, hoje Urucu tem cerca de 1,2 mil trabalhadores.
“Estarmos
aqui, com todo esta estrutura, é resultado de muito sonho nosso. A
companhia sempre foi muito importante para o país. E o legado que a
gente deixa é este aqui, é o fato de que Urucu é importante para o
desenvolvimento da região e para a geração de empregos para muita gente
que não teria uma oportunidade como esta não fosse o sonho de alguns
exploradores há 30 anos”, acrescenta o gerente.
Cuidados ambientais
Segundo
a Petrobras, o custo de extração de petróleo e gás natural de Urucu
está entre os menores no país, apesar dos desafios de logística e
operação em plena selva. A localização exigiu da estatal cuidados
adicionais na implantação do projeto, que incluíram o reflorestamento
das áreas abertas e o maior reaproveitamento possível do que é retirado
da natureza.
Os troncos das árvores derrubadas nas áreas em que
estão os poços, por exemplo, são transformados em bancos e os restos de
comida, em adubo. A energia para o funcionamento do complexo é produzida
em uma termelétrica movida a gás natural, com capacidade de geração de
20 Megawatts.
O trabalho de recomposição da cobertura vegetal e
de catalogação das espécies retiradas das áreas de extração de óleo,
entre outras medidas ambientais, tornaram Urucu referência internacional
no setor. Desde o início do projeto, as áreas afetadas são recompostas
de modo que apenas algumas clareiras denunciam a presença dos
equipamentos na floresta.
Um viveiro natural abriga dezenas de
milhares de mudas de 80 espécies nativas da Amazônia para viabilizar o
programa de replantio intensivo implementado à medida que as clareiras
são abertas para a perfuração dos poços. Entre as espécies catalogadas e
reintroduzidas na natureza estão bromélias e orquídeas.
“Toda
vez que vamos trabalhar em alguma área nova aqui na região, a gente faz a
identificação nominal da árvore, o estudo e o inventário dela e
entramos com o licenciamento. A partir deste inventário é feita a coleta
de sementes, para desenvolvermos as mudas no viveiro, de modo que na
fase pós exploratória, quando iniciamos a recuperação da área, a gente
possa devolver as características originais o mais próximo possível do
que era antes de desmatarmos para construir o poço”, explica engenheiro
florestal Jander Muniz Rabelo.
Rodrigues, gerente da Província de
Urucu, diz que os cuidados são essenciais para a continuidade da
exploração petrolífera em uma área sensível como o ecossistema
amazônico. “Nossa missão é produzir petróleo e gás e vamos fazer isto
dentro de uma lógica de responsabilidade e respeito ao meio ambiente,
caso contrário não sobreviveremos. Aprendemos que aqui temos que ficar
no nosso canto, quietos, respeitando os proprietários do local, que são
as árvores e os animais. A velocidade é controlada, o carro tem que
parar, não atropelar os animais”, conta.
Os resíduos orgânicos
produzidos no complexo viram adubo para reflorestamento e jardinagem, os
recicláveis são separados e destinados a empresas licenciadas e o
esgoto doméstico é tratado segundo parâmetros exigidos pela legislação.
De acordo com a Petrobras, “a sucata ferrosa e os resíduos perigosos são
tratados, neutralizados e destinados de acordo com as exigências
legais”.
Logística
Estar dentro da mata
fechada também impõe outro desafio à Província Petrolífera de Urucu: a
logística. Para levar a produção da reserva aos centros urbanos, o
principal caminho é o Gasoduto Urucu-Coari-Manaus, construído em 2009.
Com 663 km quilômetros de extensão, o duto tem capacidade para escoar
até 5,5 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural de Urucu à
capital do Amazonas.
Antes do gasoduto, o produto era levado a
Coari em balsas pelo Rio Urucu e depois pelo Rio Solimões até Manaus, em
viagens que levavam mais de uma semana.
*O repórter viajou a convite da Petrobras
Edição: Valéria Aguiar
Fonte: Agência Brasil
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