26 de Março de 2017
Passar
trote telefônico é uma “brincadeira de mau gosto” praticada por muitas
pessoas, desde crianças a adultos. O trote representa um grande
problema, especialmente no que diz respeito a fazer ligações para
serviços de atendimento de emergência à população, como Polícia
Rodoviária Federal (PRF), Centro Integrado de Operações Policiais (CIOp)
e Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). Essa prática gera
custos e diminui a eficiência da operação desses órgãos, colocando em
risco a vida de pessoas que realmente necessitam dos serviços.
Além disso, pode ter consequências graves para o próprio autor da
ligação, já que constitui crime. No ano passado, o CIOp da Paraíba,
através dos canais 193 (Bombeiros) e 190 (Polícia Militar), recebeu
93.286 chamados. Destes, só conseguiu atender a 69.725, os outros 23.561
desistiram na fila de espera e não conseguiram ser atendidos. Das
69.725 ligações recebidas nestes canais, praticamente 80% eram oriundas
de uso indevido, inclusive trotes, que representam 15%, totalizando
8.367 ocorrências falsas. Isso significa que apenas 13.945 das ligações
atendidas eram realmente chamadas de emergências, enquanto que 55.780
eram de uso indevido, como pessoas que querem informações diversas,
ligações erradas e que ligam e não falam.
O comandante do Ciop-PB, tenente-coronel Arnaldo, explica que o trote
causa despesas desnecessárias, deslocamento de viaturas e de policiais,
estresse e desgaste emocional à toa. “Os danos aos cofres públicos com o
dispêndio de viaturas, combustível, pessoal, material e operadora de
telefonia são faraônicos. Para se ter uma ideia, em 2015 o Senado
Federal realizou um estudo e chegou a uma estimativa de que no Brasil,
os prejuízos com os trotes aos órgãos de segurança pública batem a casa
de um bilhão de reais por ano”, aponta.
No entanto, o comandante afirma que o principal prejuízo da ‘brincadeira
sem graça’ é a perda da vida de alguém. “Um bilhão de reais pagaria uma
vida? Não mesmo, não é? Mas quando uma viatura é deslocada para um
trote, outra pessoa que precisaria de atendimento urgente para
sobreviver está deixando de receber esse atendimento. Um minuto que se
espera na linha telefônica, um minuto que a viatura demora para ser
despachada, um minuto que a pessoa que está de fato precisando fica sem
atendimento, pode ser a diferença entre viver e morrer. Quem passa o
trote pode estar sendo responsável pela perda de uma vida. Isso sim é um
prejuízo imensurável”, define.
A PRF também contabiliza números alarmantes. Em 2016 recebeu 88.489
chamados, com uma estimativa de 28.306 trotes. Já neste ano, até a
quarta-feira de cinzas (primeiro de março) foram 14.648 ligações de
emergência, em que 4.478 foram referentes a trotes. O mesmo ocorre com o
Samu (192), que recebe uma média de 13.699 trotes por mês. Em 2017 já
somou 23.350 ligações de falsas ocorrências, enquanto que no ano passado
164.836 ligações foram trotes realizados para as sete centrais de
Serviço Móvel de Urgência da Paraíba.
Os trotes mais comuns são de pessoas que fazem falsas denúncias aos
atendentes dos serviços de emergência. “São assaltos em andamento,
tiroteios que não existem, incêndios, afogamentos, sequestros, tem até
mulheres que simulam entrar em trabalho de parto”, comenta o
tenente-coronel Arnaldo, explicando, ainda, que a prática prejudica o
acesso da população aos serviços, já que as linhas telefônicas
permanecem ocupadas durante longo período de tempo, enquanto alguém que
realmente tem uma denúncia ou necessita de socorro fica na espera até
que a linha desocupe.
Para não cair nos golpes, os atendentes gastam mais tempo para conferir
as informações. Dados como nome completo, endereço e relato detalhado da
situação são solicitados ao telefone. O problema é que isso demanda
mais tempo e também deixa a linha ocupada. Entretanto, para identificar
as principais causas do congestionamento dos telefones de serviços, em
função das constantes reclamações da população, afirmando que “não
conseguem ligar para o 190, 193 ou 192, por exemplo, porque só vivem
ocupados”, o sistema de gerenciamento dos chamados de emergência dispõe
de um identificador de chamadas. “Criamos uma espécie de ‘lista negra’
daqueles números que, de forma recorrente, insistem em praticar o trote.
Às vezes, também, pela experiência do teleatendente, percebe-se que há
muita incoerência nas respostas que a pessoa do outro lado da linha dá,
quando se realiza a triagem necessária ao atendimento. Todavia, qualquer
que seja o mecanismo escolhido para tentar barrar o trote, ele será
apenas um paliativo, uma vez que, a linha estando ocupada, o potencial
de dano ainda persiste”, esclarece a coordenadora operacional do Corpo
de Bombeiros, capitã Cecília Lima.
Fonte: PB Agora
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