sábado, 24 de junho de 2017

A ILUSÃO DA VIDA

Por Markus DaSilva, Th.D.
Há minutos atrás, recebi um telefonema do meu sobrinho me informando da morte do Enéias, um grande amigo. Meu amigo sofria de Alzheimer, mas mesmo assim a sua partida nos pegou de surpresa. Há apenas um mês, quando fui visitar a minha mãe no Brasil, estive com o Enéias e me lembro sentado no sofá, conversando com a sua esposa e filho, enquanto ele se posicionava confortavelmente usando o meu ombro como encosto. Meu passeio anual à Minas não será o mesmo sem o meu querido companheiro. Sei que ficarei meio perdido sem aqueles encontros na sua casa; sem os bate-papos gostosos, ainda que sem nexo, devido à terrível enfermidade que o assolava.
A vida é uma ilusão. A ilusão está no fato de que ela frequentemente nos aparenta fixa, permanente, firme… nos parece estar controlada, quando de fato não está. Nos dias difíceis, quando eventos nos surpreendem, acordamos para a realidade de que a vida está longe de ser algo sob controle. Mas basta passar a crise e voltamos a viver na ilusão de que a temos submissa aos nossos planos e desejos.
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“O Senhor, na sua bondade, às vezes nos presenteia com uma pequena e temporária luz. Pequena, mas que neste mundo em trevas, vê-se tão brilhante”
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A ilusão da vida tem muito a ver com o tempo; com o fato de estarmos limitados ao presente. Anos atrás, quando eu, Enéias, e outros amigos íamos fazer serenatas nos dias das mães, quando a turma ficava cantando e rindo debaixo do pé de goiaba, jamais imaginávamos que um dia ele ficaria doente, que um dia eu receberia esse triste telefonema. Na época não pensávamos nisso. Na época não nos ocorria que esse dia chegaria… mas chegou.
Não me preocupo com o Enéias, aliás ninguém se preocupa. Quem o conheceu sabe que ele foi um daqueles casos raros, quando tem-se a impressão de que houve um engano; que nos parece que a alma de um anjo foi acidentalmente dada a um ser humano. Sabemos muito bem que não é o caso, pois Deus não comete enganos; o que realmente ocorre é que o Senhor, na sua bondade, às vezes nos presenteia com uma pequena e temporária luz. Pequena, mas que neste mundo em trevas, vê-se tão brilhante (Fp 2:15; Pv 4:18).
Queridos, a vida presente é uma ilusão, uma rápida ilusão (Sl 39:5). Parece que não, mas é. Independentemente da sua duração, um, dez ou cem anos, o tempo passa e com ele a vida (1Pd 1:24; Sl 89:47). Uma grande parte da nossa fé se baseia nessa realidade. Enquanto recusarmos a analisar a nossa passagem pela terra como um todo, fazendo as perguntas que realmente importam: de onde viemos? Onde estamos? Para onde vamos? (1Jo 2:17). Enquanto nos limitarmos ao hoje, e tomarmos decisões visando tão somente o agora (Tg 4:14); enquanto focarmos no passageiro e não no eterno, seremos como um barco à deriva, sendo levados ora para um lado, ora para outro, de acordo com a vontade de um vento incerto. Esses que assim se encontram ficarão surpresos quando ouvirem o grande chamado e perceberem que estão demasiadamente distantes de Deus (Lc 13:25). Não morarão com o Pai, pois amaram mais a ilusão do que o real; mais o mundo do que a Jesus. Espero te ver no céu.

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